Há ‘Especialistas Demais e Generalistas de Menos’ no mercado de trabalho atual.
“Sinceramente, estou cansado de encontrar especialistas em todo lugar. Eu quero contratar um bom generalista”.
M.A.F., 32 anos
Foi assim mesmo que um amigo revelou sua dificuldade de localizar um clínico geral em meio a tantos profissionais médicos com especializações múltiplas. Por outro lado, é relativamente fácil localizar psicólogo especializado em terapia para cachorros e oftalmologista de cavalo. Este último, inclusive, com altos rendimentos.
O noticiário televisivo da semana passada enfatizou a dificuldade que municípios nordestinos vêm tendo para contratarem médicos e outros profissionais da saúde generalistas, mesmo com atrativos salários de R$ 10 mil.
Segundo a reportagem, há pouca gente disponível no mercado e os mesmos ainda querem se especializar.
Na área odontológica vem acontecendo a mesma coisa. As pessoas se especializam antes de atuarem. São especialistas, mas apenas na teoria, porque ainda não tiveram a oportunidade de solidificarem nem mesmo o conhecimento que vivenciaram durante sua vida acadêmica.
Ao mesmo tempo, muitas universidades não oferecem mais cursos de Administração de Empresas. Foram substituídos por superespecializados formatos como Administração com Ênfase em Marketing, em Vendas, em Sistemas de Informação, em Gestão de Recursos Humanos, em Gestão Empresarial. Ah, cansei.
O resultado deste quadro é bastante nítido e preocupante. Inúmeros profissionais sentem-se desmotivados a trabalhar porque conhecem muito sobre a área de atuação, mas sua ocupação atual não permite que apliquem quase nada “na prática”. É bom lembrar que aquele que sabe e não aplica, vale o mesmo que aquele que não sabe.
Numa entrevista de emprego, candidatos são reprovados porque possuem “qualificação demais para o cargo”. É exatamente isto! Caso fossem contratados, em pouco tempo atuariam de maneira desmotivada, porque suas competências ultra-especializadas não são necessárias num trabalho pouco estimulante. Por isto, nem são contratados. Eu também não contrataria.
Por fim, vale ressaltar que as empresas desejam profissionais hiperpreparados, mas não estão prontas para acolhê-los e estimulá-los. Desejam gente criativa, mas quando alguém apresenta um projeto inovador, logo é ridicularizado. Para que profissionais criativos, então?
Não estou fazendo uma pregação contra os especialistas, mas um convite à polivalência. Ela também é uma excelente opção. Assim, se você ou seu filho ainda não decidiram qual carreira seguir, sugiro que, pelo menos, pensem na possibilidade de atuarem como generalistas.
Ser profundo conhecedor da rebimboca da parafuseta não é garantia de sucesso em sua profissão.
Vale refletir.
Wellington Moreira
wellington@caputconsultoria.com.br