É natural as pessoas se curvarem a especialistas. O problema é que muita gente que diz ser um deles, não é.
Sempre lembro da história da mulher que chegou até o pianista Arthur Moreira Lima ao final de um concerto dizendo que jamais havia visto alguém tocar tão bem e que, se pudesse, daria a própria vida para ser genial como ele. E no mesmo instante ouviu o músico dizer: “Foi exatamente isso o que eu fiz. Dediquei a minha vida ao piano para tocar dessa forma”.
De uns tempos para cá muita gente passou a se intitular expert, ainda que o nível de domínio no campo de conhecimento para o qual se dedica esteja mais próximo dos palpiteiros que opinam a torto e direito sobre política ou futebol no centro da cidade. É só navegar na Internet durante alguns minutos para você colher inúmeros exemplos.
Essa onda se intensificou nos últimos anos desde que estudos consolidaram aquilo que já sabíamos na prática. Existe uma tendência de as pessoas persuadirem as outras quando têm – ou parecem ter – credibilidade sobre o tema que abordam, o chamado Gatilho da Autoridade. Aliás, isso explica por que valorizamos tanto a roupa branca do médico, o terno do advogado ou as histórias inverossímeis que aquele amigo conta sobre o tempo que morou na Romênia.
É natural as pessoas se curvarem a especialistas.
O problema é que muita gente que diz ser um deles, não é. O que apareceu de guru financeiro, life coach e personal-não-sei-o-quê nos últimos meses é uma coisa que realmente chama atenção. Se você acredita em todos eles, uma dica: também precisa dar ouvidos ao Menino do Acre.
Antigamente, qualquer reconhecimento de especialização estava alicerçado em títulos de boas instituições de ensino e relevantes conquistas ao longo da carreira. Dificilmente alguém se arriscava a dizer que era especialista em alguma coisa antes que seus pares também o vissem assim. A pessoa ralava de verdade para merecer tamanha honraria.
Contudo, como novas áreas do conhecimento têm desabrochado e ainda não há peritos em várias delas, charlatões estão aproveitando a sua capacidade de comunicação, o diploma de um curso que fizeram no último fim-de-semana e o grande alcance das mídias digitais para enganar os desavisados.
De vez em quando acompanho meus clientes em reuniões com possíveis fornecedores que são, no mínimo, uma perda de tempo. Em pelo menos dois casos, empresas que diziam ser inovadoras não tinham um case sequer para mostrar e, a meu ver, estão em busca de cobaias que aceitem remunerá-las como especialistas enquanto adquirem o tipo de experiência que já publicam em seu sites.
O espaço que estas pessoas estão ganhando no mercado tem muita relação com a angústia que boa parte dos dirigentes das companhias enfrenta hoje em dia por não encontrarem respostas satisfatórias para os desafios que enfrentam. Daí, quando alguém diz que sabe o caminho das pedras, logo se desmancham. “Até que enfim, alguém pode nos ajudar”.
Fique atento a alguns dos sinais de quem gosta de ludibriar. Ele geralmente se veste de modo moderninho para parecer criativo, dirige um veículo de última geração, despeja um monte de termos em inglês durante a fala, adora apresentações PowerPoint repletas de gifs animados e não têm resultados para mostrar. Vive de promessas e aparências.
Com um mundo cada vez mais complexo, especialistas continuarão a ser muito importantes nos próximos anos. No entanto, é importante saber separar os experts dos fanfarrões. Seu dinheiro, sua empresa e a sua saúde agradecem.
Uma coisa que aprendi é que se não tenho algo de bom a dizer, o melhor é ficar quieto. Os palpiteiros de plantão pensam exatamente o contrário: o negócio é sair emitindo opiniões a torto e direito. Eles sabem que muita gente confunde empáfia com credibilidade.
Ainda bem que a ignorância não é eterna. Como dizia Abraham Lincoln: “Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo.” A onda da palpitaria, como tantas outras, vai passar.