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“Todo o mundo fala em mercado de trabalho, carreiras de TI, certificações, qualificações e também quando vejo aqui no Portal GSTI as vagas de emprego que exigem experiencias nas quais não tenho nenhum domínio. Quero atuar na área do Software embora não pretenda atuar como desenvolvedor (gosto bastante da parte de documentação de software). Estou terminando o 5.º ano de Eng. da Computação com enfase em Software e queria saber que rumo tomar na minha formação e certificação?
L. Magalhães (Goiás)
Caro leitor,
O mundo lá fora está mesmo uma selva… e as regras da selva não são mais aquelas que conhecemos das histórias infantis em que o leão é o Rei da Selva e todos os outros animais se organizam numa cadeia alimentar quase perfeita.
Nos dias de hoje ser um animal na selva não é tarefa fácil: um dia somos presas, outro dia predadores; um dia estamos a passear tranquilamente no cerrado, outro estamos embrulhados na selva. V erdade é que qualquer animal tem cada vez mais de ter os instintos apurados e manter os olhos sempre bem abertos para garantir a sua sobrevivência e a da sua espécie.
Este contexto transformou completamente a carreira de qualquer profissional, sendo que na área das Tecnologias da Informação teve um impacto avassalador. O meu avô trabalhou toda a vida na indústria metalúrgica e ainda ontem me falava de quem “casava” com uma máquina para a vida, começando e acabando a sua carreira sempre de volta da mesma tecnologia, começando como serventes/ajudantes e terminando muitos anos depois como especialistas.
É precisamente aqui que reside o primeiro fator a ter em conta na questão desta semana: o ciclo de inovação tecnológica .
Já não há, ou haverão poucas, tecnologias para toda a vida (por vezes nem para todo o ano!) e quando falamos da indústria de software , os últimos anos têm sido bom exemplo de como as tendências têm alterado permanentemente, e com elas a valorização de determinadas competências nos profissionais. É natural um estudante universitário estudar uma linguagem de programação que no segundo ano de curso é o máximo e quando sai para o mercado de trabalho já era… É natural que um profissional num ano seja valorizado pela sua competência e no ano seguinte seja considerado inadaptado às necessidades do empregador.
A tomada de consciência da existência de ciclos de inovação tecnológica cada vez mais curtos leva à necessidade de se cortar com modelos de ensino e formação tradicionais baseados em ciclos longos de aprendizagem e posterior aplicação, para modelos mais ágeis em que o conhecimento passa a ter um valor diretamente proporcional à sua aplicação.
Acabou-se a “carreira profissional”… estes são os tempos das “carreiras profissionais” e da aprendizagem contínua.
O segundo fator a ter em consideração tem a ver com o mercado de trabalho. O alinhamento das competências com o mercado de trabalho que se quer explorar é um fator crítico de sucesso, podendo aqui existir duas principais estratégias a adotar:
- Especialização – A especialização é vista como um valor de excelência, mas pode nem sempre ser verdade. A especialização é valorizada em mercados em que a dimensão permite que determinada competência possa ter escala e ser um fator de vantagem competitiva do profissional. Neste sentido, a especialização deve ser uma opção sobretudo em mercados de grande procura ou quando se pretende explorar o mercado global.
- Generalização – A generalização é muitas vezes confundida com o “faz-tudo”, o “desenrasca”, com toda a carga negativa que muitas vezes é associada a estas características. No entanto, optar por um tipo de competências mais horizontal, explorando formação e capacitação num âmbito de competências mais alargado pode nem sempre ser uma má opção, sobretudo quando se pretende trabalhar em mercados com pequena dimensão ou pouca procura.
Por vezes passa-se a ideia de que o valor das competências é um valor absoluto, mas tal é cada vez menos verdade, sendo que a competência certa ou errada será sempre em último caso ditada pelo mercado, tornando as competências um valor relativo.
Tendo em consideração estes dois fatores, qual o rumo a tomar na sua formação e capacitação?
Primeiro conselho é que esse rumo não seja definido para uma carreira mas para um próximo ciclo profissional. Que profissional quer ser daqui a 3, 5 ou 10 anos? Vai querer trabalhar perto de casa, no Brasil ou no Mundo? Vai querer fazer o que gosta ou tentar gostar do que faz para ganhar dinheiro? Estas são questões que certamente deverá colocar-se antes de definir o plano de ação, o qual irá guiar as suas decisões profissionais, com os necessários impactos pessoais que estas terão certamente.
Tentando ser um pouco mais objetivo, se olharmos para as competências relacionadas com a área de “Desenvolvimento e implementação de soluções tecnológicas”, podemos utilizar a framework SFIA [1] (Skills Framework for the Information Age) para melhor entender quais poderão ser as principais competências a desenvolver e níveis de responsabilidade a considerar (já aqui falei no Consultório #1 dos sete níveis de responsabilidade do modelo SFIA [2]). Estas são algumas das funções que podem ser exploradas ao nível de “Desenvolvimento de soluções tecnológicas”:
- Gerenciamento de desenvolvimento de sistemas (níveis 5 a 7);
- Análise de dados (níveis 2 a 5);
- Desenho de sistemas (níveis 2 a 6);
- Desenho de bases de dados/repositórios (níveis 5 e 5);
- Programação de software (níveis 2 a 6);
- Desenvolvimento de soluções interativas (animação) (níveis 2 a 5);
- Engenharia de segurança (níveis 3 a 6);
- Engenharia de sustentabilidade (níveis 4 a 6);
- Gestão de conteúdos de informação (níveis 1 a 6);
- Teste de soluções (níveis 1 a 6).
Cada uma destas áreas funcionais tem associado um modelo de desenvolvimento de competências, formação e capacitação que podem ser uma boa ajuda para um melhor entendimento das oportunidades que uma determinada função pode apresentar a um profissional e a melhor forma dessas oportunidades serem aproveitadas.
Ter a consciência de quais as competências associadas a uma determinada área funcional permite que sejam melhor analisadas as oportunidades de formação e qualificação e possibilita uma decisão mais informada em caso de mudança de função.
Qual a função com maior sucesso na atualidade? Esta é a resposta que fontes como o Portal GSTI e outras podem responder, uma vez que o sucesso e insucesso de uma função estão, como referi anteriormente, diretamente relacionado com a procura existente.
A boa notícia é que perante este contexto não podemos mais falar em más decisões ou más escolhas que afetam toda a carreira do profissional. Escolheu mal? Então está na hora de escolher outra vez!
Espero ter ajudado, bom trabalho,
Bruno Horta Soares, CISA®, CGEIT®, CRISC ™ , PMP®
"The more you know, the less you n o!"
Para enviar as suas questões, dúvidas ou comentários para o "Consultório PortalGSTI" deverá utilizar o email: consultorio@portalgsti.com.br
[1] http://www.sfia-online.org/
[2] https://www.portalgsti.com.br/2013/09/consultorio-portal-gsti-1.html