Publicação

O culto ao trabalho em equipe

foto de
Wellington Moreira CONTEÚDO EM DESTAQUE

Muitas empresas sabem o que devem fazer para serem mais produtivas só que esquecem de promover o espírito de equipe em seus colaboradores.


Se você aprecia histórias de times esportivos que superaram inúmeros obstáculos antes de chegar ao auge, saiba que existe uma série de filmes desse gênero na locadora mais próxima. O mesmo pode ser dito em relação aos títulos disponíveis nas livrarias, pois durante os últimos anos muita coisa também foi escrita a fim de desvendar os segredos das equipes de sucesso.

Um dos marcos deste processo como um todo foi o antológico artigo “A Disciplina dos Times”, publicado pelos professores John Katzenback e Douglas Smith na Harvard Business Review em 1993, no qual detalharam os diferentes tipos de equipes e suas características principais, além de levantarem os fatores que realmente afetam o desempenho de um grupo de trabalho.

É claro que de lá para cá cases de sucesso mostraram como as companhias devem proceder na prática e aquilo que não funciona de jeito nenhum, mas ainda hoje em dia é difícil encontrarmos times que administram com êxito os dois elementos que compõem a competência trabalho em equipe.

O primeiro deles é a capacidade de produzir bem em conjunto , afinal não é porque as pessoas atuam num mesmo local que o trabalho delas é fértil por natureza. Grupos que estão em processo de formação, por exemplo, geralmente alcançam resultados medianos e só com o passar do tempo é que seus números crescem. É por isto que equipes com alta rotatividade não são dignas de aplausos.

O mesmo vale também para aquelas conduzidas por líderes fracos. Neste caso, os dígitos animadores existem enquanto o mercado está amplamente favorável e despencam logo que precisam enfrentar períodos conturbados.

Aliás, se você quer conhecer a real capacidade de uma equipe, fique atento ao comportamento que ela adota diante das situações que fogem à sua rotina . Um time afinado não se desespera ao encontrar um desafio diferente daquele que está acostumado a vencer e se mantém focado em buscar alternativas para superá-lo. Já uma equipe meia-boca...

O segundo elemento de um time de sucesso é o espírito de equipe . Fazemos parte de uma sociedade que percebe o individualismo como virtude suprema e por isto não é fácil comprometer as pessoas para causas coletivas. O famoso “o que eu vou ganhar com isto?”, apenas externaliza que as pessoas pensam primeiramente em si próprias e só depois no grupo do qual fazem parte.

Mas não pense que isto seja recente. Em sua obra “Raízes do Brasil”, de 1939, o historiador Sérgio Buarque de Holanda já lembrava que o culto ao personalismo era um traço da nossa cultura e que este desestimulava o esforço humilde, anônimo e desinteressado que poderia garantir maior coesão social e a solidariedade dos interesses. Como você sabe – e sente, pouco avançamos desde então.

Entretanto, de nada adianta uma postura vitimista. As recentes manifestações que tomaram o país mostram que estamos passando por um intenso período de mudanças e que este é o momento ideal para difundirmos o culto ao trabalho em equipe como sustentáculo de um novo modelo para a sociedade e cada indivíduo que a compõe. Ou seja, ele não serve apenas para orientar as empresas.

Alguns países aprenderam isto a duras penas, como foi o caso do Japão e da Alemanha após a Segunda Guerra Mundial. Se hoje nós os admiramos como nações desenvolvidas e reconhecemos suas empresas como modelos de gestão, é porque o senso de coletividade sobrepujou as motivações individualistas, tanto na vida pública quanto na corporativa.

A mesma atenção que dedicamos ao desenvolvimento de práticas mais produtivas para o trabalho em equipe deve ser dirigida a “vendê-lo” como valor às pessoas. Enquanto não aceitarmos o fato de que ainda estamos engatinhando nesta matéria continuaremos a fazer um esforço sobre-humano para que as pessoas desviem a atenção de si próprias .

Wellington Moreira
wellington@caputconsultoria.com.br

Comentários