Inúmeras companhias brasileiras vão à bancarrota ano a ano exatamente porque seus gestores combinam autoconfiança em demasia com o sentimento de infalibilidade.
É aceitável que boa parte dos empreendedores de sucesso sinta orgulho pelas empresas que construíram ao longo de muitos anos de dedicação e se satisfaça sem reservas quando o merecido reconhecimento público de terceiros aparece em suas diferentes formas.
Contudo, alguns deles acabam engolidos pela vaidade , deixando-se levar pela crença de que possuem superpoderes pessoais para resolver todo e qualquer tipo de desafio corporativo que surja pela frente. A velha história da arrogância instalada pelos êxitos passados , na qual o empreendedor abandona a humildade e a prontidão características dos primeiros anos de trabalho.
Inúmeras companhias brasileiras vão à bancarrota ano a ano exatamente porque seus gestores combinam autoconfiança em demasia com o sentimento de infalibilidade e isto não tem ocorrido apenas com as pequenas. O castelo de areia do grupo de empresas geridas pelo antes idolatrado Eike Batista é uma prova disto.
Movido pelo desejo de ser o homem mais rico do mundo, Eike investiu boa parte do seu tempo nos últimos anos para construir a partir do zero grandes corporações e projetos faraônicos em mineração, logística e petróleo, dentre outros diferentes mercados. Tudo indica que este foi um erro crucial do empresário, pois a incapacidade de administrar simultaneamente as peculiaridades dos vários empreendimentos agora é levantada por analistas como uma das principais explicações para o desempenho pífio do grupo EBX.
Quando um negócio empresarial encontra-se em ascensão, os obstáculos a serem superados tendem a mudar de complexidade e natureza . Por conseguinte, é comum que o dia a dia dos dirigentes passe a exigir deles capacidades muito superiores àquelas mobilizadas até então para resolver os problemas corriqueiros. A questão é que nem sempre os administradores se dão conta disto ou têm estofo para atuar dentro do novo paradigma estabelecido.
É por isto que tenho especial apreço por aqueles que reconhecem o limite da sua competência . Estas pessoas sabem captar com sensibilidade ímpar contextos nos quais precisam de apoio ou é mais prudente tirar o pé do acelerador, já que sua experiência e visão são escassas para seguirem adiante.
Indivíduos cujo lema é algo do tipo: se você não sabe como resolver um problema novo que aparece, procure alguém que possa orientá-lo a fim de tomar a decisão certa. Ou seja, gente que não têm o ego inflado e recorre a experts como a coisa mais natural do mundo, afinal se é importante aprender com os próprios erros, também é verdade que alguns deles são desnecessários e ainda podem custar muito à sua empresa ou carreira.
Nas organizações em que o tema governança corporativa passou a ser encarado com seriedade já não é incomum encontrarmos proprietários que recrutam executivos do mercado para tocar as companhias fundadas por eles e, humildemente, se colocam como aprendizes. Maturidade que só um empreendedor consciente de seus limites pode ter.
Enquanto isto, algumas empresas fecham as portas exatamente porque seus gestores não estão nem aí para o futuro da organização e sim preocupados apenas em manter o controle total acerca das decisões, dentro do olhar infantil: “É meu e você não vai pegar!”.
Se você dirige uma empresa – seja ela grande ou pequena –, procure identificar até onde vai a sua competência de gestão e em quê precisa de ajuda para fazer aquilo que é certo. Este tipo de consciência fundamenta a boa dose de desprendimento que encontramos em vários dos empreendedores que alçaram suas companhias ao estrelato nos mais diferentes mercados e é aquilo que reprimiu a arrogância que poderia tê-los destruído.
Wellington Moreira
wellington@caputconsultoria.com.br