Bruno Horta Soares, CISA®, CGEIT®, CRISC™, PMP®, COBIT 5 | bruno.soares@govaas.com
Esqueceram de mim
Quem não se lembra da saga ”Esqueceram de mim”? Uma família muito engraçada que cada vez que mudava de local ou ia de viagem tinha sempre tudo pronto e organizado mas que sempre esquecia um “pequeno detalhe”: o menino Kevin! Esta semana lembrei do filme enquanto assistia a um evento sobre o futuro dos Datacenters. Falou-se de tudo um pouco mas no final fiquei com a sensação de que também se esqueceram de falar de um “pequeno detalhe”: as pessoas.
Esta semana decorreu em Lisboa o evento “Datacenter Dynamics Converged Lisbon 2013”, um evento muito interessante dedicado às tendências dos Datacenters onde definitivamente o Outsourcing foi o Rei e a Cloud a Rainha. É verdadeiramente impressionante conhecer os avanços na área dos Datacenters, em particular os relacionados com os projetos de implementação de grandes Datacenters onde os principais players de mercado irão suportar os seus serviços inovadores de SaaS, PaaS ou IaaS. Estas são realidades de inovação tecnológica e de infraestruturas com que poucas empresas poderiam sonhar, mas que agora estão acessíveis à distância de um click.
Colocando num prato da balança as realidades que muitas empresas enfrentam nos seus Datacenters, quer seja ao nível da gestão ou dos custos relacionados, e no outro prato a flexibilidade, o acesso às mais avançadas tecnologias e aos profissionais melhor preparados, parece quase impossível não equacionar a transferência para esta nova realidade. Mas no meio de todas estas vantagens e oportunidades, pouco se falou de uma componente que também será fortemente afetada caso as Empresas optem pela mudança para estes novos paradigmas: Esqueceram das pessoas. E para mim este é um aspeto que não deverá ser deixado para trás porque pode muito bem ser um fator crítico para o sucesso dessas estratégias.
Destacaria dois aspetos que me parecem relevantes e merecedores de reflexão por parte das Empresas clientes, mas também dos players que pretendem comercializar este tipo de serviços.
1. Antes da mudança – Muito profissionais não entendem as vantagens porque não as querem entender
Imaginem que conduzem um calhambeque (Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!). Apesar de vos dar muita dor de cabeça com a condução e manutenção, não deixa de ser o vosso querido calhambeque e aquele com o qual têm uma enorme proximidade e até um carinho especial. Todos vos conhecem pelo calhambeque e, como dizia Roberto Carlos, “Existem mil garotas querendo passear nele”. Chega o dia em que vos fazem uma proposta para mudar para um veículo mais rápido, mais fiável, mais barato, mais, mais, mais... Será que a decisão da mudança será mais influenciada pela maravilha da nova solução ou pelo facto de se ter de largar o calhambeque?
Esta analogia serve para representar aquilo que é na minha opinião o gap existente entre a maturidade atual e a maturidade prometida. É natural que a razão diga que Datacenters com maturidades elevadas ao nível de tecnologias, pessoas e processos são a melhor solução, mas será que é assim tão fácil compreender e aceitar essas vantagens quando o gap para a realidade atual é tão grande? Será que os profissionais não entendem, ou não querem entender?
O medo de caminhar para o desconhecido é uma reação natural, tanto pelo receio de partir como de chegar. Os profissionais poderão até compreender as mais-valias das novas realidades, mas é o caminho que as assusta e a mudança que os faz resistir.
As estratégias de transferência para estes novos paradigmas não poderão apenas estar focadas nas maravilhas e vantagens das novas soluções, mas deverão sempre ser contextualizadas no ponto de partida, pois só assim será possível uma transição informada e com uma adequada gestão da mudança.
2. Depois da mudança – “São precisos dois para dançar o tango”
Qualquer estratégia de externalização do Datacenter para modelos mais ou menos virtualziados, mais ou menos dependentes da Cloud, só terá verdadeiro sucesso se ao melhor fornecedor do mundo se juntar o melhor cliente do mundo , e neste momento a chave do sucesso ainda passa por formar e capacitar os clientes para que estes possam vir a ser os melhores clientes do mundo. Para tal é necessário que, em conjunto, possam ser desenhadas e implementadas estratégias de transformação das competências dos profissionais de uma realidade operacional para uma realidade de governance e gestão.
Certamente existirá uma racionalização de profissionais, mas os que ficarem terão de ser altamente qualificados em competências que lhes permitam gerir todo o ciclo de vida dos serviços , desde a fase inicial de desenho da nova arquitetura, passando pela fase de compras e adjudicação dos serviços, acompanhamento e avaliação dos serviços até à fase de avaliação de switch off e transferência para novo contrato. Estas não são competências tipicamente associadas aos profissionais que anteriormente geriam os Datacenter internos pelo que muito haverá a fazer nesta área.
Conclusão
Como em tantas outras situações, por mais bem-intencionadas que possam ser as decisões relacionadas com a migração dos Datacenter internos para modelos externalizados, em particular suportados na cloud, existem riscos que irão condicionar o sucesso dessas decisões. Um dos fatores de risco mais significativo é sem dúvida as Pessoas. Ao contrário da segurança, onde muitas vezes se refere as Pessoas como sendo o elo mais fraco, aqui as Pessoas poderão ser o elemento mais forte e aquele que poderá condicionar o sucesso ou insucesso da decisão .
Clientes e Fornecedores terão de concentrar a sua atenção nas componentes financeiras e de qualidade de serviço, pois de facto estas serão determinantes, mas não poderão descurar que o governance e a gestão deste tipo de serviços requer competências que normalmente não estão disponíveis nas empresas Clientes e, como tal, deverão ser garantidas, quer por contratação de profissionais com qualificações nestes domínios, ou através da formação e capacitação dos profissionais anteriormente relacionados com a operação.
Cumprimentos desde Portugal… estamos juntos!