Você merece um tempo para não fazer nada e isto não é sinal de que esteja trabalhando improdutivamente.
Provavelmente, pelo menos neste primeiro momento, você deve estar curioso sobre o porquê deste título e ficará ainda mais agora ao saber que realmente estou pregando o culto à arte do “fazer-nada” . E saiba que isto não é novidade... Muita gente separa um tempo para si e não deixa de ser produtivo por isto – pelo contrário .
O desenvolvimento tecnológico alcançado neste último século XX é indiscutível e várias inovações que fazem parte do seu cotidiano surgiram da necessidade que o ser humano tem (independentemente da cultura) de facilitar a arte do bem-viver. Um simples controle remoto, por exemplo, mudou todos os conceitos e estudos da propaganda, porque trocar de canal atualmente é muito mais fácil – você não precisa sair do sofá (ou da sua cama) e chegar até o aparelho televisor. Basta apenas apertar a tecla correta com um dedo e zapear. Sim, as pessoas assistiam antigamente aos comerciais de TV não porque gostassem, mas porque tinham preguiça de sair do sofá.
O avião, o computador, a Internet e o telefone celular também surgiram porque os profissionais precisam alcançar produtividade em seu trabalho afim de que haja tempo para atividades de lazer. Milhões de teletrabalhadores no mundo estão gozando os benefícios destas conquistas e agora possuem tempo para verem seus filhos crescerem e também para deitarem numa rede ao fim do dia, algo que não faziam anos atrás .
Infelizmente, alguns efeitos colaterais surgiram a partir desta busca incessante pelo ócio. Você pode perceber que seu e-mail e o aparelho celular que carrega no bolso da calça são ferramentas que o aprisionaram ainda mais ao trabalho, pois agora qualquer pessoa pode encontrá-lo nos finais de semana, à meia-noite do sábado, durante o feriado da segunda-feira. Trabalhar 24 horas por dia e 7 dias da semana não é mais “privilégio” de poucos, é seu também.
Mas, o que será o ócio? Segundo o dicionário Aurélio, é o tempo que se passa desocupado, em trabalho mental, ocupação suave, agradável ou de lazer. Quem melhor desenvolveu este conceito foi o filósofo italiano Domenico de Masi, que prega por todos os cantos do mundo a necessidade do ócio criativo que, segundo ele, “ significa exercício do sincretismo entre atividade, lazer e estudo, propondo ao homem que ele se desenvolva em todas as suas dimensõe s”.
Queira ter tempo para assistir televisão, não ficar fazendo hora-extra, ir ao parque, tomar um chope com os amigos e jogar aquele futebolzinho às terças e quintas depois do expediente. Aliás, é nestes momentos que as idéias criativas borbulham e soluções surgem como num passe de mágica .
Você merece um tempo para não fazer nada e isto não é sinal de que esteja trabalhando improdutivamente. Para isto, tenha a consciência de que todas as coisas que precisam ser feitas, também precisam ser feitas muito bem da primeira vez . Se houver falhas na execução das tarefas, você ficará preso ao retrabalho , e o tempo de lazer do final-de-semana será certamente deixado de lado.
Siga o conselho de um amigo que normalmente diz: “Eu sou muito preguiçoso e não tenho vergonha de dizer isto. Aliás, é por causa da minha preguiça que procuro fazer tudo correto logo da primeira vez. Assim me sobra tempo para fazer tudo aquilo que eu desejo”.
Wellington Moreira
wellington@caputconsultoria.com.br